quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Perfil/Memorial








Prezada leitora:

Sou Alessandra Belo, estudante de Pedagogia da Universidade Aberta do Brasil. O curso é ofertado pela Universidade Federal de Minas Gerais e o pólo escolhido por mim foi Bom Despacho, que fica a três horas de ônibus de Belo Horizonte. Escrevo esta carta para dividir com você um pouco da minha história: a minha trajetória acadêmica.

Porém, antes de começar a contar um pouco sobre mim, quero explicar que a adoção deste formato não foi despropositada. Muito menos vem de uma escritora experiente. Sou apenas uma estudante de graduação que sabe escolher bem seus modelos. O deste texto, uma carta, é inspirado no livro "Carta de uma orientadora: o primeiro projeto de pesquisa", escrito por Débora Diniz[1], e envolveu-me tanto que pretendo adotar o modelo na tentativa de acolhê-la da mesma forma.

Permita-me, também, explicar-lhe o motivo de me referir à você no feminino: somos maioria na docência, principalmente na Educação Infantil e nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental. Isso tem raízes históricas, que podem ser consultadas sob o nome de "feminização do magistério". 

Aproveito para esclarecer que não sou "tia" de nenhum estudante. Há quem diga que há coisas mais importantes para se discutir na Educação do que a relação nominal "tia" existente entre professoras e estudantes. Discordo profundamente, cara leitora. É justamente este pensamento — de que há coisas mais importantes para se discutir na Educação do que a relação nominal "tia" para se referir às professoras — que me faz ter a certeza de que estamos tratando aqui de relações de poder e reproduzindo o preconceito de gênero contra nós, mulheres. Afinal de contas, se há "coisas" mais importantes do que reconhecer nosso profissionalismo na Educação, então, onde fica este reconhecimento e, finalmente, onde ficamos nós, mulheres, como sujeitos históricos?

https://www.ufmg.br/online/arquivos/anexos/paulo%20freire.jpgVocê pode estar se perguntando: "mas de onde essa tal de Alessandra tirou isso?". De um livro escrito por Paulo Freire[2]. Inclusive, aproveitando a citação, quero começar a contar minha história compartilhando como Paulo Freire foi meu primeiro referencial teórico, da área da Educação, quando eu participava de um projeto de extensão na UFMG.


Foi assim: em 2003 ingressei no curso de Psicologia também na UFMG. Neste período, estava bastante envolvida com a Academia e minhas disciplinas favoritas eram Psicologia Social, Psicologia Política e Psicanálise. Estas disciplinas permitiram que eu começasse a desenvolver uma visão mais crítica e politizada da minha formação profissional e também da minha vida pessoal. A partir deste percurso acadêmico pude compreender quais eram as implicações políticas do meu gênero, classe social, raça, etc.

Durante o ano de 2006 fiz estágio no Curso Intensivo de Mão-de-Obra Industrial (CIPMOI), ofertado na Escola de Engenharia da UFMG. A participação neste projeto de extensão decisiva para meu ingresso na Educação. 


http://www.cipmoi.org.br/
Foi tão importante que vale dedicar boa parte desta carta para falar sobre o CIPMOI, onde dei aulas de Comunicação e Relações Humanas para grupos de eletricistas, pedreiros, soldadores e mestres-de-obra. Eram, ao todo, 250 alunos. Foi o primeiro contato que tive com trabalhadores industriais. Lembro-me, como se fosse hoje, do primeiro dia de aula: todos os alunos entraram cabisbaixos na universidade, com muita vergonha. Aquilo me tocou e eu comecei a acolhê-los dizendo que eram bem-vindos no curso, cuja vaga tinham conquistado através de um longo processo seletivo. Além disso, como universidade pública que é, a UFMG estava recebendo cidadãos pagadores de impostos, que ajudavam a manter a própria universidade. Diante deste acolhimento, estes alunos começaram a levantar suas cabeças e, a partir daí, meu envolvimento foi cada vez maior: um vínculo havia sido criado naquele momento. Comecei, então, a ler Paulo Freire. Do curso de Psicologia, utilizava conhecimentos que tinha aprendido na Psicologia do Trabalho e na Psicologia Política. Estes conhecimentos permitiam, cara leitora, que eu buscasse compreender este universo até então desconhecido para mim. Conversando com meus alunos e lendo os trabalhos que eles redigiam, percebi o quanto eles se esforçavam para estudar à noite na UFMG. Fiquei sabendo, por exemplo, que muitos alunos acordavam antes das 5:00 h da manhã porque começavam a trabalhar às 07:00 h no canteiro de obras. Chegavam em casa por volta das 24:00 h diariamente. Não raro, dormiam na sala de aula. Mas eu já entendia o motivo e nunca os acordava, fazendo tudo o que podia para atender às demandas que iam aparecendo. Se você trabalha com Educação de Jovens e Adultos, querida leitora, faça o mesmo! Deixe seu aluno descansar um pouco depois de uma pesada jornada de trabalho. Se não for assim, as dificuldades de acesso à Educação aumentam ainda mais para estes trabalhadores.

Infelizmente, mesmo com toda esta boa vontade, tinha dificuldades para lidar com a realidade destes estudantes porque, como disse, era uma situação totalmente nova para mim. Neste momento, pude contar com um dos professores mais importantes para meu percurso acadêmico: o Prof. Antônio Augusto Moreira de Faria, da Faculdade de Letras da UFMG. Ele me ajudou a desenvolver uma visão completamente diferente sobre o trabalho humano e o uso da linguagem. Mostrou-me como a linguagem é identitária e como a destituição do letramento — do mundo, como diria Paulo Freire — é uma forma de manter as relações de poder. Outra experiência significativa no CIPMOI foi a redação de uma Apostila para os alunos. Com a ajuda do Prof. Antônio Augusto — sempre! — redigi a apostila com textos e músicas que contextualizavam o dia-a-dia do operariado brasileiro, como, por exemplo: Luto da Família Silva, de Rubem Braga; Setor de Montagem, de Edgard Pereira; O Padeiro, de Rubem Braga; Construção, de Chico Buarque; Deus lhe Pague, de Chico Buarque; Linha de Montagem, de Chico Buarque; Pedro Pedreiro, de Chico Buarque; Vai Trabalhar Vagabundo, de Chico Buarque; O Açúcar, de Ferreira Gullar; Navio Negreiro, de Castro Alves; Operários em Construção, de Vinícius de Morais. O estágio no CIPMOI foi, portanto, um enorme desafio porque eu fazia Psicologia e tinha um orientador da Faculdade de Letras. Mas eu adorava e preparava os textos com muito carinho, o que me proporcionou o contato com várias reflexões que até hoje são importantes para mim como estudante, trabalhadora, mulher e cidadã.

Outro momento formativo para mim no CIPMOI foi quando alguns alunos relataram que tinham problemas no trabalho por causa da ilegibilidade da letra cursiva. Começamos, então, a treinar caligrafia. O objetivo não era ter letra bonita, mas aumentar a autoestima dos alunos, a partir do momento em que se apropriassem da escrita como forma de comunicação. No trabalho, era comum terem que preencher notas de serviço, recados ou notas fiscais. Então, diariamente treinávamos das 17:00 h até o início das aulas. Muitos alunos desenvolveram uma caligrafia melhor mesmo. E tive a oportunidade de saber, por exemplo, que um aluno meu sofrera um acidente de trabalho que foi diagnosticado erroneamente como outra doença e que, por isso, tinha problemas para escrever com a mão direita. Sua precisão na escrita havia sido comprometida para sempre. Isso me chamou a atenção porque estudava, justamente naquele período, o adoecimento no trabalho. À luz de várias leituras acadêmicas, pude ver concretizada a exploração da mão-de-obra de um trabalhador industrial, o que me sensibilizou ainda mais para as questões relacionadas ao trabalho humano.

Além das atividades de caligrafia, trabalhávamos com os textos da Apostila. Durante este trabalho, tive diversas oportunidades de aprender com os estudantes do CIPMOI. Por exemplo, terminada a leitura do texto "O Padeiro", um aluno, de aproximadamente 60 anos, falou "parece a minha filha, quando chego em casa ela fala para a minha mulher ´não é ninguém não, mãe, é só o pai que está chegando!'". E, também, de relacionar estes relatos com temas estudados na universidade como, por exemplo, a invisibilidade social.

Até mesmo as condições precárias[3] dos laboratórios da universidade foram problematizadas pelos estudantes, acredita? Lembro-me bem de um aluno que chamava o laboratório de sucatório, o que deixava muitos monitores esbravejando. Este aluno, inclusive, tinha muita vontade de continuar estudando também. Na época, enviou-me um e-mail dizendo que tinha passado no Vestibular para cursar Direito em uma universidade da rede privada de ensino. Até hoje eu tenho a curiosidade de saber se ele se formou, se gostou do curso, se hoje é advogado. 

A criação de vínculos afetivos era comum e eu realmente gostava de estar com os estudantes do CIPMOI. Uma vez, um aluno abandonou o curso. Telefonei para ele várias vezes e ele, finalmente, retornou. Queria ter sido filósofo e lamentava a opção dos filhos pela carreira militar: queria que os filhos fossem para a faculdade. Diferentemente de outro aluno, que contava orgulhoso sobre a filha que estudava na pós-graduação. Este aluno tinha trabalhado no Oriente Médio durante um ano mais ou menos. Ele era soldador e contava várias situações diferentes e engraçadas para a gente. Coisas sobre diferenças culturais, etc.

Em 2006, quando estava no 6º período, engravidei e precisei escolher entre cuidar da minha filha e concluir o curso. Optei por cuidar da minha filha. Quando fiquei sabendo que estava grávida, minha vida virou "de pernas para o ar" porque eu já estava no terceiro mês de gravidez. Morávamos em um apartamento pequeno no centro da cidade e tínhamos que nos mudar. Querida leitora, aproveito para compartilhar uma reflexão sobre esta situação maravilhosa que é a gravidez. Como este momento é especial para nós, não é? Gerar uma vida é uma sensação inexplicável e a relação que temos com o bebê, lá dentro da nossa barriga, é uma sensação muito particular. É ou não é? Bom, diante das necessidades que se apresentaram, meu marido e eu decidimos vender nosso apartamento e adquirir outro. Como meu marido trabalhava o dia todo, precisei me dedicar a esta tarefa. Mesmo com dedicação exclusiva para a gravidez e a mudança, mudei-me com meu marido e minha filha no oitavo mês de gravidez! Foi um período muito corrido e, por isso, precisei abandonar o estágio também.

Iara nasceu e eu fiquei cuidando dela. Quando pude pensar em retomar os estudos, encontrei outra barreira: o currículo da Psicologia havia sido modificado e o curso, agora, era ofertado em horário integral. Além disso, fui informada de que não estavam mais aceitando rematrícula de alunos do currículo antigo por falta de turmas. Tive, então, que procurar outra alternativa para retomar os estudos. Veja como são as coisas, você que me acompanha até aqui: a escolha por substituir um curso ofertado em dois turnos por um curso ofertado o dia inteiro dificultava o acesso, uma vez que sua frequência passou a demandar dedicação exclusiva. Ou seja, a reforma curricular da Psicologia dificultou o acesso à Universidade. Não deveria ser o contrário?

http://www.fafich.ufmg.br/nuh/Mas, como diz o ditado: “não adianta chorar o leite derramado”. Então, como eu gostei muito da experiência da docência no CIPMOI, eu optei por retomar os estudos cursando Pedagogia. Escolhi, agora, um curso presencial em outra universidade. Foi uma decepção e, depois de dois anos e meio, decidi abandoná-lo. Uma das razões para isso era a falta de integridade acadêmica dos alunos deste curso: trabalhos plagiados, colegas colocando nome de outros colegas que não tinham feito absolutamente nada, o que comprometia muito a qualidade da formação dos estudantes. Outra razão era conviver com um preconceito muito grande contra debates acadêmicos sobre política, gênero, desigualdade social, etc. Ou seja, a formação do sujeito autônomo, pensante, que a UFMG tanto prezava, era desprezada nesta instituição. Neste período, eu me envolvi intensamente com Movimentos Sociais e fiz um curso no Projeto Educação Sem Homofobia ofertado pelo Núcleo de Direitos Humanos e CidadaniaLGBT da UFMG (Nuh-UFMG).

Acredito que tenha sido a forma de lidar com minhas raízes, de retomar meus valores, de buscar espaços onde eu me sentisse mais à vontade. O resultado disso foi enfrentar um enorme preconceito na universidade. Havia pessoas que não conversavam comigo. Outras falavam em alto e bom tom: "política não se discute". Foi uma convivência que se tornou bastante desanimadora porque tudo o que eu acreditava era muito desvalorizado naquele ambiente, então até eu comecei a questionar vários paradigmas: se eu realmente gostava de política, de movimentos sociais, de direitos humanos. Comecei a questionar meus valores na época, o que foi positivo porque hoje tenho certeza de que a Educação tem como fim em si mesma a emancipação dos sujeitos.

Mesmo assim, diante de tantas dificuldades, quando saí senti-me muito triste. A sensação que eu tinha era de uma enorme perda de tempo. Comecei a pensar: "será que estou errada?", "será que eu deveria ter sido conivente com o que eu vi?", "será que a qualidade que eu busco é a correta?". Foi então que eu comecei a pesquisar a integridade acadêmica, mais especificamente o plágio acadêmico, que foi um problema sério que tive no meu Projeto de Pesquisa com uma colega que plagiava páginas inteiras e colocava no nosso Projeto. Como a monografia era, obrigatoriamente, em grupo, eu não conseguia me livrar desta colega e a situação tomou uma dimensão que me fez repensar se era aquilo mesmo que eu queria. Quando comecei a pesquisar o plágio acadêmico eu tive, finalmente, a certeza de que tinha feito a escolha certa.

A partir desta pesquisa, comecei a redigir um blog chamado "Foi Plágio". Como parte deste comprometimento com a integridade acadêmica, comecei a me corresponder com outras pessoas interessadas pelo assunto. E foi neste contexto que tive a oportunidade de escrever um texto. Mas... Um texto sobre plágio? Fiquei morrendo de medo, não daria conta. Procurei então uma pesquisadora que tem vários textos sobre o assunto e ela me encaminhou para Ana Terra Mejia Munhoz. Foi o meu primeiro texto colaborativo, eu fiquei  muito feliz e tive a oportunidade de escrever em parceria com uma pesquisadora de renome. Nunca imaginei que isso aconteceria! O texto foi intitulado "Educação, Escrita e Combateao Plágio" e foi publicado no site da ALAB - Associação de Linguística Aplicada do Brasil.


http://www.pensaraeducacao.com.br/
Durante este período em que não estava vinculada à UFMG como estudante, meu contato foi mantido através do Projeto "Pensar a Educação, Pensar o Brasil". Semanalmente é apresentado um programa de rádio que costumava ouvir e participar. Foi uma forma de manter laços com a UFMG mesmo não estando matriculada em nenhum curso na Instituição.

Mas, e agora? Eu ainda queria estudar. Eu queria ter uma profissão. Os estudos de Psicologia do Trabalho me ensinaram que a profissão é um fator identitário e eu me sentia mesmo sem uma identidade. Eu era mãe, esposa, dona de casa, mas não tinha uma profissão. Isso me fazia muita falta. O tempo já estava passando e eu, com quase 40 anos, ainda não tinha me formado. Isso começou a me estimular a buscar um curso novamente. E lá fui eu de novo. Comecei a procurar por cursos EaD. Via muitos professores da UFMG falando bem da EaD. Eu não fazia a menor ideia de como funcionava um curso superior à distância. Mas, diante dos relatos positivos e do meu desejo de retomar os estudos, fiz o Enem em 2011 e ingressei na UFMG em 2012 novamente.

Quando cheguei em Bom Despacho gostei muito da turma, das tutoras e logo me adaptei ao curso, à modalidade à distância, ao material utilizado. Enfim, senti-me novamente parte de algo, de um grupo. Estava de volta à boa e velha UFMG, minha universidade do coração.

Atualmente, estou  no quinto período do curso. O material que utilizamos é excelente, o pólo é muito bem administrado e a turma é ótima. De acordo com o próprio relato de várias colegas, muitas não tiveram a oportunidade de estudar em boas escolas, ou até de estudar na "idade certa". É possível perceber, claramente, como muitas vem se apropriando da escrita acadêmica. No começo, diziam que não iriam dar conta: tinham que usar o computador, o AVA (ambiente virtual de aprendizagem), escrever muito e com observância das normas gramaticais, saber conversar no AVA (é mais difícil, não vemos a pessoa, a escrita tem que dar conta de passar a mensagem). E hoje muitas dessas colegas vem se apropriando de um discurso acadêmico que está cada vez mais elaborado, mais coerente e mais transformador da realidade. É emocionante ver isso, ver o esforço dessas mulheres, donas de casa, mães, como eu, que lutam para ter uma formação profissional. São pessoas merecedoras de todo respeito e admiração. Mais uma vez a escrita acadêmica cruza o meu caminho!

https://www.ufmg.br/giz/E, recentemente, tive outra oportunidade de pensar e dialogar sobre o letramento acadêmico. No semestre passado (1º semestre de 2014), eu fiz dois cursos no Percurso Discente Universitário - Giz/UFMG: Leitura e Escrita Acadêmica e Mapas Conceituais. Eu adorei os cursos, nossa, Leitura e Escrita Acadêmica foi, claro, meu favorito. Foi mais uma oportunidade de ter contato com o letramento acadêmico.

Depois de concluir os cursos, no final do 1º semestre de 2014 tive a oportunidade de participar de uma seleção para ser tutora à distância nos cursos do Giz. Fui tutora na Oficina Leitura e Escrita Acadêmica. Foi uma experiência gratificante, fiquei realmente muito feliz por poder participar de uma Oficina com este tema. A turma foi excelente assim como minha tutora de referência, Jacqueline Laranjo. Parece que combinamos tudo, nossa forma de trabalhar é muito parecida, então foi uma experiência agradável, nem vi o tempo passar. Estamos na última semana e eu já sinto saudades da Oficina. Percebo, nesta reflexão, que a escrita acadêmica está presente também nos meus valores: integridade, honestidade, comprometimento, trabalho. Tudo isso está, de alguma forma, relacionado à uma escrita acadêmica bem feita. 

https://www.ufmg.br/ead/site/
A EaD também proporcionou para mim outras vantagens. Uma delas foi fazer vários cursos sobre o uso das Tecnologias da Informação e Comunicação e sua aplicação na Educação. Já estou no terceiro módulo e neste semestre vamos aprender a editar vídeos. Da mesma forma, concluí o curso “Gênero e Diversidade na Escola”, ofertado pelo Nuh-UFMG em parceria com o Centro de Apoio à Educação à Distância – CAED/UFMG.  Procuro, sempre que possível, participar de atividades acadêmicas dentro e fora da universidade. Faço cursos, participo de eventos, assisto a palestras[4]. Outra vantagem que o curso à distância me ofereceu foi trabalhar enquanto minha filha está na escola. 

Atualmente trabalho na Escola da Serra, como auxiliar, e gosto muito da sua proposta pedagógica. O estágio na Escola da Serra tem sido desafiador: confesso que não tenho tempo para ler todos os textos técnicos a fim de sanar todas as inquietações que surgem durante o estágio. Pelo contrário, infelizmente, há muitas perguntas sem resposta por falta de tempo mesmo. A maior parte delas vem da sala de aula. Como trabalho com uma professora muito competente, as oportunidades que tenho para refletir sobre minha prática docente são diárias. Temos um diálogo aberto, onde as observações da professora contribuem para a minha formação na docência.  Participo, também, de uma reunião semanal com a Supervisão Pedagógica e com o Núcleo de Psicologia. Nessas reuniões podemos conversar sobre embasamentos teóricos e sobre a prática pedagógica. Tem sido muito enriquecedor e, devido à proposta pedagógica da Escola, é preciso desenvolver um trabalho em equipe. Neste sentido, venho tendo também a oportunidade de trabalhar, uma vez por semana, com a professora de Arte e coordenadora da equipe de Artes (Artes Plásticas, Música, Teatro e Dança), o que tem sido ímpar para a minha formação. Dentro deste contexto, o estágio tem me provocado bastante pois sou convidada, quase que diariamente, a rever meus paradigmas. Não raro, fico muito angustiada porque não é fácil pensar e repensar valores, crenças e formas de agir. Mas a equipe é bem preparada e recebe estas dificuldades com profissionalismo, destacando sempre o caráter formativo do estágio.

Assim, creio que consegui mapear algumas atividades importantes, realizadas dentro e fora da UFMG, que contribuem para meu percurso acadêmico porque estão diretamente relacionadas com a formação e sucesso profissionais.

Já no quinto período do curso de Pedagogia, estou bastante preocupada com os rumos que vou dar para a minha carreira. São vários temas interessantes encontrados no decorrer da minha trajetória acadêmica: feminização do magistério, direitos humanos na escola, letramento acadêmico, gestão escolar e formação docente, só para citar alguns

Sobre a feminização do magistério, como mulher e professora em formação, percebo o quanto as questões de gênero afetam a nossa profissão e a nossa inserção na sociedade de forma geral.

Sobre direitos humanos (o que insere os estudos sobre gênero), acredito que sua abordagem na escola, a partir de intervenções pedagógicas — mais do que por imposição do Estado ou dos movimentos sociais — seja um dos grandes desafios atuais das profissionais da educação.

Sobre o letramento acadêmico, penso que se trata de um assunto propício para a pesquisa na Educação, desde a Ed. Básica (principalmente a partir dos Anos Finais do Ensino Fundamental) até os cursos de nível superior.

Igualmente interessante é a Gestão Escolar. Em várias situações acadêmicas foi possível perceber que tenho um perfil gestor, com facilidade para assumir a posição de liderança, além de gostar da área. pensei em fazer um curso técnico em recursos humanos, algo que não abandonei por completo mas venho repensando esta formação complementar e sua real necessidade para trabalhar como gestora.

Por último, mas não menos importante (pelo contrário...), meu percurso universitário destaca a importância da qualidade da formação dos educadores e as possibilidades, propiciadas pelos cursos à distância, de acesso e permanência na Educação. Por isso, tenho interesse em atuar na formação docente e como professora de cursos EaD.

Tenho encontrado vários desafios neste percurso: como não é meu primeiro curso, há situações em que possuo mais conhecimento acadêmico do que outras colegas, então isso é uma diferença que marca minha trajetória atualmente e que é tanto positiva quanto negativa, dependendo do contexto; tenho pouco tempo para estudar; o curso de Pedagogia é desvalorizado e o salário dos professores é muito baixo[5]; a tutoria dos cursos EaD, em expansão, já se consolida sucateada, com contratos provisórios, sem direito a Piso Salarial Nacional (como no caso de professores de cursos presenciais), sem plano de carreira, etc. A única coisa que eu faço para lidar com estes desafios é aceitar as coisas que eu não posso mudar e tentar me organizar para melhorar as que eu posso mudar. Procuro sempre fazer o melhor que eu consigo e penso em direcionar meu curso para algo que eu tenha muito prazer em fazer, independentemente do trabalho que vai me dar. Percebo também a participação de mais mulheres do que homens na EaD, dentro de todo este contexto. Lembrando as palavras de Débora Diniz: “Não pense em seus sentimentos para daqui a vinte anos. Planeje o que conseguira executar neste momento com suas próprias palavras, seja responsável pelo que seus dedos conseguirão criar diante da tela à espera dos argumentos” (p. 86).[6]


Cara leitora, se você chegou até aqui, o mínimo que posso fazer é agradecer a sua atenção e paciência. Espero que você perceba, antes de mais nada, a relevância desta metodologia, que é a escrita de um portfólio[7], para a recuperação e significação da trajetória acadêmica. Tive o objetivo de ler estas experiências como formativas e intrínsecas à construção da minha identidade.






[1] Antropóloga, professora titular da Universidade de Brasília e pesquisadora da Anis - Instituto de Bioética Direitos Humanos e Gênero.
[2]  “Professora Sim, Tia Não”.
[3] Em 2006 a Escola de Engenharia ficava localizada no centro de Belo Horizonte, na Av. dos Andradas.
[5] Ao compartilhar este texto com o querido Prof. Antônio Augusto, novamente obtive uma orientação sua de grande valia: acompanhar o Plano Nacional de Educação e suas 20 metas para os próximos 10 anos.
[6] DINIZ, Débora. Carta de uma Orientadora: o primeiro projeto de pesquisa. Brasília: Editora LetrasLivres, 2012. 108p. 
[7] AMBRÓSIO, Márcia. O uso do portfólio no Ensino Superior. Petrópolis: Vozes, 2013. 183 p.

terça-feira, 14 de outubro de 2014

Contribuições do Curso de Formação de Tutores à Distância do Giz/UFMG


Perguntas geradoras:

1. Como desenvolver um trabalho em equipe em um curso à distância?
2. Como gerir um curso à distância sem burocratizá-lo em demasia?
3. Como mediar a relação professor-aluno, sendo este bem mais autônomo nos cursos à distância?
4. Qual é o equilíbrio entre a flexibilidade e a obrigatoriedade no cumprimento de tarefas e prazos?
5. Em quais aspectos da minha formação em Pedagogia esta experiência interferiu? Como?
O curso proporcionou para mim diversas oportunidades diferentes. Uma delas foi desenvolver um trabalho em equipe. As reuniões contemplavam o planejamento, mas foi o comprometimento de cada um que possibilitou que o curso fosse ofertado. Igualmente importante foi vencer a falta de tempo para participar das reuniões e acompanhar a Metaturma e a Oficina. Como as reuniões eram pela manhã e Iara está comigo neste horário, por várias vezes ela me acompanhou e sou grata a ela por isso.

Percebi também que há uma burocratização excessiva do curso: tudo é anotado, compartilhado, há cruzamento de dados de planilhas diferentes, enfim, é algo que dá muito trabalho. Acredito que o planejamento do curso ofereceu grande flexibilidade para os estudantes, o que tem sua razão de ser. Mas isso acarreta uma sobrecarga para os tutores. Será que vale a pena?

O maior desafio de todos foi repensar minha concepção de docência, de relação professor-aluno e perceber que há várias formas de ser estudante e professor. Eu mesma sou muito exigente e ficava bastante brava com alunos que atrasavam a postagem das tarefas. Mas fui percebendo que cada um tem seu tempo, cada um precisa do seu momento. E a equipe me ajudou bastante nisso. Neste sentido, o curso contribuiu muito para me fazer refletir sobre formas de ver o mundo que eu tinha e que eu posso ter. No meu dia a dia, penso em começar a ler algumas coisas sobre a docência, papel do professor, a relação professor-aluno e temas relacionados. Acredito que levo comigo mais do que perguntas: levo o aprendizado de que é possível fazê-las para ter a liberdade de mudar sempre que desejado.

Outra contribuição importante foi ter a oportunidade de atuar como tutora à distância. Gostei da experiência mas preciso aprender muitas coisas ainda. E o serviço é muito... Nossa! Tudo é planilha pra lá, reunião pra cá... É serviço demais da conta! Acredito que seja preciso repensar a EaD, a gestão dos cursos EaD mesmo, sabe? E muda data, muda rotina, muda combinado, muda norma... Talvez essa flexibilidade seja importante mas ter flexibilidade demais também aumenta a quantidade de trabalho dos tutores. Acho que a primeira coisa que eu aprendi foi valorizar muito o trabalho das tutoras do curso de Pedagogia: Heloísa, Rodrigo, Symaira, Sayonara e Lúcia. Depois, pensar mesmo na EaD como uma formação de boa qualidade e não como um curso que se faz sem comprometimento. Além disso, fiquei curiosa para saber as semelhanças e diferenças entre a gestão dos cursos EaD e dos cursos presenciais.

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Apresentação na Semana do Conhecimento

Esta apresentação foi mais uma oportunidade que tive ao concluir o Curso de Formação de Tutores no GIZ/PROGRAD/UFMG.

Segue, abaixo, a programação:


Apresentei o banner e o portfólio (blog). Foi uma apresentação de 15 minutos e foi muito bom poder participar de um evento acadêmico compartilhando um processo que vem sendo importante para a minha formação docente.







sexta-feira, 10 de outubro de 2014

Premiação - Cerimônia de Encerramento da 23ª Semana do Conhecimento da UFMG








Eu nunca poderia imaginar que meu trabalho final do Curso de Formação de Tutores seria premiado! Fiquei realmente muito feliz e vou me dedicar ainda mais para ser uma Pedagoga competente, continuando este percurso de forma reflexiva, como aprendi a fazer no III PDU.

E, claro, esta premiação só foi possível porque a própria UFMG possibilitou esta oportunidade para mim, em especial a equipe do Giz e da Pró-Reitoria de Graduação da UFMG. Entendo que este trabalho é uma construção, feita ao longo destes anos, o que me faz ser grata a todas as oportunidades que tive na Universidade Federal de Minas Gerais.

 





sábado, 20 de setembro de 2014

O erro é o caminho para o acerto

Finalmente, no III PDU, aprendi que o erro é o caminho para o acerto. Isso quer dizer que, quando erramos, temos a oportunidade de refletir sobre o que pensamos acerca de qualquer coisa. Aprender através do erro é até mais interessante do que acertar de primeira porque o erro promove a reflexão, a mudança, o diálogo, a troca:

[...] Aquilo que é errado em um contexto, pode estar certo em outro. Todos nós erramos algumas vezes, ou seja, pensamos ou agimos de um modo que um dia terá, talvez, que ser revisto. No processo de desenvolvimento, o que interessa é uma revisão constante de nossas teorias, ideias, pensamentos ou ações, porque erro e acerto são sempre relativos a um problema ou sistema (MACEDO, 1994, P. 64).


Aprendi, portanto, no Curso de Formação de Tutores, a errar e aceitar o erro como parte do processo de aprendizagem.

REFERÊNCIA

MACEDO, Lino. Ensaios construtivistas. São Paulo: Casa do Psicólogo. 1994. 170p.

A dimensão política do portfólio de aprendizagem

Acredito que este poema de Ferreira Gullar mostra a importância do olhar reflexivo sobre o processo, ao invés de nos atermos apenas ao produto.


O AÇÚCAR[1]


Ferreira Gullar

O branco açúcar que adoçará meu café
nesta manhã de Ipanema
não foi produzido por mim
nem surgiu dentro do açucareiro por milagre.

Vejo-o puro
e afável ao paladar
como beijo de moça, água
na pele, flor
que se dissolve na boca. Mas este açúcar
não foi feito por mim.

Este açúcar veio
da mercearia da esquina e tampouco o fez o Oliveira,
dono da mercearia.
Este açúcar veio
de uma usina de açúcar em Pernambuco
ou no Estado do Rio
e tampouco o fez o dono da usina.

Este açúcar era cana
e veio dos canaviais extensos
que não nascem por acaso
no regaço do vale.

Em lugares distantes, onde não há hospital
nem escola,
homens que não sabem ler e morrem de fome
aos 27 anos
plantaram e colheram a cana
que viraria açúcar.

Em usinas escuras,
homens de vida amarga
e dura
produziram este açúcar
branco e puro
com que adoço meu café esta manhã em Ipanema.





[1] GULLAR, Ferreira. Toda poesia. 2. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira. 1981.

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Jacqueline Laranjo

Um dos presentes que recebi neste ano — e foram muitos, acho que devido à uma decisão de cuidar mais de mim e da minha família — foi conhecer Jacqueline Laranjo e tê-la como minha Tutora de Referência no Curso de Formação de Tutores e na oferta do III Percurso Discente Universitário oferecido pelo Giz/Prograd/UFMG.
Durante esta trajetória, Jacqueline soube equilibrar minha autonomia com os momentos em que eu necessitei de uma orientação mais diretiva. Um dia, com muita delicadeza, pediu-me que colorisse o blog. No começo estranhei, ela nunca tinha demonstrado preocupação com esse tipo de detalhe durante o curso. Mas, depois, entendi: precisava explorar mais meu processo. "Colorir" significava "dar sentido, cuidar mais", ver meu processo com "boniteza", como diria Moacir Gadotti. Com a escrita e a apresentação do portfólio, sinto-me aos poucos começando a caminhar sozinha nesta formação que decidi continuar durante a minha participação no III PDU: a de tutora à distância. Mesmo assim, posso ainda perceber suas palavras me norteando. 
Acho que é isso que é ser professora/tutora/orientadora/mestra/facilitadora: estar presente sem sufocar e ir sem se ausentar por completo. Neste sentido, aprendo: professores marcam as trajetórias de seus alunos para sempre!
Quando eu achava que já tinha recebido muito, aprendo que há pessoas cuja generosidade é infinita. Não vou tentar explicar, prefiro compartilhar a linda mensagem enviada por Jacqueline, no final do curso, em 01 de outubro de 2014.

Olá Alessandra

adorei o seu blog, estou muito orgulhosa, pois  foi um prazer trabalhar e aprender com você durante esse curso de formação de Tutores, tenho certeza que você terá um caminho florido em sua carreira como pedagoga. Sua competência e habilidade me faz acreditar ainda mais na educação como força propulsora para mudanças reais neste país. Não saberia defini-la melhor do que Drummond...
¨Tem gente que tem cheiro de passarinho quando canta.
De sol quando acorda.
De flor quando ri.
Ao lado delas, a gente se sente no balanço de uma rede que dança gostoso numa tarde grande, sem relógio e sem agenda.
Ao lado delas, a gente se sente comendo pipoca na praça.
Lambuzando o queixo de sorvete.
Melando os dedos com algodão doce da cor mais doce que tem pra escolher.
O tempo é outro.
E a vida fica com a cara que ela tem de verdade, mas que a gente desaprende de ver.
Tem gente que tem cheiro de colo de Deus.
De banho de mar quando a água é quente e o céu é azul.
Ao lado delas, a gente sabe que os anjos existem e que alguns são invisíveis

Parabéns, Deus abençoe sua vida, sua família e seu sucesso profissional.
E obrigada do fundo do meu coração pela imensa ajuda no percurso enquanto me preparava para a qualificação!!


Abraços

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Jacqueline Laranjo
Tutora GIZ/PROGRAD/UFMG